Estar triste não é sinónimo de estar doente. Apesar de ser um dos sintomas de depressão, a tristeza pode ser uma reação normativa, saudável e natural a inúmeros eventos e situações que acontecem no dia a dia. Podemos sentir-nos tristes quando enfrentamos problemas ou momentos difíceis, o que não significa obrigatoriamente que estejamos doentes.
É importante que os termos tristeza e depressão não sejam confundidos, ainda que a linha que os separe seja bastante ténue, pois são situações com características distintas, que exigem uma abordagem e um tratamento distinto. O termo tristeza refere-se a um sentimento, enquanto o termo depressão a uma doença que interfere francamente no dia a dia e funcionalidade do indivíduo.
Tristeza vs Depressão: Principais diferenças
A diferença entre depressão e tristeza assenta, essencialmente, nas causas, duração e intensidade do quadro. Assim sendo, a tristeza está normalmente relacionada com um acontecimento específico, é proporcional a este, não interfere com a funcionalidade nem com produtividade do indivíduo e tem uma duração autolimitada, de horas a algumas semanas (6-8 semanas), remitindo espontaneamente sem necessidade de intervenção farmacológica ou psicoterapêutica. Por sua vez, a depressão é uma doença multifatorial, resultante da combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos, que se caracteriza por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos, que se perpetuam no tempo e prejudicam de forma significativa a vida do indivíduo, podendo mesmo levar ao suicídio. Na depressão, nem sempre é possível encontrar uma causa específica, no entanto, quando presente, os sintomas são habitualmente desproporcionais e de maior intensidade, exigindo, na maior parte dos casos, intervenção psicofarmacológica e/ou psicoterapêutica.
Sintomas de depressão
Quando se fala em depressão podemos ter presente vários sintomas para além da tristeza, como por exemplo:
-Perda de interesse e prazer por quase todas as atividades, inclusivamente aquelas que no passado gostávamos muito de fazer;
-Apatia;
-Lentificação ou agitação psicomotora;
-Isolamento social;
-Vontade de chorar;
-Sentimentos de menos valia e baixa auto-estima;
-Sentimentos de culpa e inutilidade;
-Visão negativa de si próprio, dos outros e do mundo;
-Alteração do apetite e do padrão de sono;
-Cansaço fácil e sensação de diminuição da energia;
-Dificuldade de concentração e atenção;
-Diminuição da iniciativa, da motivação e da capacidade de tomar decisões;
-Irritabilidade;
-Alteração da memória e da capacidade de aprendizagem;
-Pensamentos recorrentes sobre a morte ou ideias de suicídio.
É importante ressalvar que algumas pessoas podem ter depressão, mesmo que não se sintam tristes, com vontade de chorar ou de se isolar. Nesses casos, os principais sintomas são a irritabilidade, a impulsividade, a agressividade e a baixa tolerância à frustração/crítica.
Tratamento da depressão
A depressão é uma das perturbações mentais mais frequentes e, apesar dos avanços da ciência e da tecnologia, nem sempre é corretamente diagnosticada e tratada, o que afeta negativamente o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. Apesar da existência de tratamentos inovadores e comprovadamente eficazes, sabe-se que apenas 1/3 dos doentes com sintomas depressivos procuram ajuda e que destes apenas 1/3 são corretamente diagnosticados e tratados.
Existem diversos tratamentos disponíveis, como é o caso dos psicofármacos e da psicoterapia, no entanto o tratamento mais adequado deve ser ponderado de forma individualizada, caso a caso, após avaliação pelo médico Psiquiatra. O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para evitar que a depressão se prolongue no tempo ou agrave.
Não ignore o que está a sentir! Procure ajuda especializada de um Psiquiatra ou Psicólogo sempre que sentir alguns dos sintomas acima referidos.
Autora:
Dra. Patrícia Perestrelo Passos
Psiquiatria